Venham, venham depressa! - Jul, o louco da pequena cidade, apresenta-se na rua principal entre gritos e palavras descoordenadas que rapidamente colocam a pequena população em alvoroço. A chuva cai afincadamente enquanto as portas batem, pessoas nas janelas, alguns curiosos que se ficam pela interrogação popular, ao olharem uns para os outros como que a transmitir o que já todos sabem: é doido.
Jul grita insistentemente, Venham, venham, são dedos de pessoas! Crescem como plantas. Venham! O polícia da cidade, dos poucos que ainda mantém interesse pela profissão, sai do posto em direcção a Jul, agarra-o levemente pelo braço, Anda, sai da chuva e conta-me o que se passa. Não posso, não posso, têm que vir comigo. – Grita. Arrastado pela autoridade, Jul vê-se obrigado a ceder. Já abrigados, Jul visivelmente mais calmo, explica o que viu.
- O senhor tem que acreditar em mim. São dedos. Parecem dedos de pessoas que estão a crescer da terra. Mexem-se com o agitar do vento. O senhor tem que acreditar em mim, diz entre soluços.
- E onde é que fica essa “plantação de dedos”? – Graceja, olhando para o colega.
Vocês não acreditam em mim, mas vão ver quando lá chegarem. É no velho campo de futebol.
- Vamos ver o que se passa. Jonhson traz os cães.
A chuva teima em não parar, o jipe, velho, balbucia por entre pedras e lama.
É ali, é ali. – Diz.
De repente, a viatura para. Jonhson volta a ligá-la e comenta, eu bem lhe disse que precisamos de uma viatura nova. Tem razão Johnson, tem razão. Após várias insistências e fartos do barulho dos cães, decidem fazer os cem metros que se seguem a pé. A chuva insiste em cair, o vento agita-se, os campos revoltam-se.
Jisp volta. Jisp! Johnson desata a correr atrás de um dos cães que lhe foge em direcção ao campo. Desaparece. Anda cá, anda cá… Jisp é sugado por uns quantos dedos que parece terem vida própria. Desapareceu. Correm todos em direcção ao campo, perplexos. Param. Estáticos. Parece que viram um monstro. E viram, de facto. Dedos, uns pequenos, outros grandes, outros médios, mindinhos, polegares, brancos, lavados, mexem-se como se quisessem sair. Eu disse-vos! Eu disse-vos! – Comenta Jul, enquanto cai no meio da lama. Gotas de sangue espirram toda a farda do polícia, já molhada. Morreu.
O polícia olha incrédulo, como se estivesse sozinho, morto.
26 de novembro de 2010
9 de setembro de 2010
(...) 4
De uma forma instintiva, Smith agarra no braço de Jenny e puxa-a para o interior do gabinete do Chefe em busca de um sítio que lhes proporcionasse maior segurança. Fechou a porta e procurou em vão uma chave que firmasse a desejada obstrução à entrada do monstro, na ausência desta, reclinou uma velha cadeira de madeira de encontro à maçaneta da porta. Na outra divisão, na portada de madeira com acesso à escadaria principal, ouviam-se sons compassados mas impulsivos e de violento impacto, dando a adivinhar que esta poderia sucumbir a qualquer momento.
Os dois encarcerados exibiam uma expressão de pavor, aliada a uma sensação claustrofóbica, de alguém que vê o seu já pequeno espaço de manobra, a ser reduzido a uma ínfima área de pouco mais de 10m2.
Jenny debruçou-se no parapeito da única janela daquele espaço e observou as paredes exteriores em busca de alguma saída. Apesar da cor gradiente de final do crepúsculo conseguiu ver, a cerca de dois metros e meio de altura, a existência de um cabo de electricidade fixo à parede de pedra disposto paralelamente à torça da janela. Tentou chegar àquela linha-de-vida que os poderia salvar mas esta estava demasiado alta. Uma solução, matutou Jenny, seria retirar a cadeira que servira de tranca e usá-la como plataforma para se elevar até ao parapeito da janela, mas ainda assim havia o risco de não conseguir chegar ao referido cabo, brotando contudo a cerebral questão se, em caso de sucesso, ela possuiria a suficiente força braçal para se suster e deslocar horizontalmente até ao peitoril do vão seguinte.
Entretanto Smith, que deambulava de um lado para o outro no cubículo-prisão, compeliu a pequena secretária de madeira que ali jazia sem dono, de encontro à porta. Supostamente, o peso superior deste denso objecto relativamente ao da cadeira, talvez resistisse melhor aos possíveis impactos da besta que, segundo ele, não tardaria a chegar. Tal acto gerou uma pequena divergência de ideias entre os dois aprisionados. Para Jenny, que ainda retinha alguns (poucos) ensinamentos da disciplina de física, a cadeira, ao exercer uma força transversa mas centralizada na maçaneta da porta, era o objecto de maior confiança para o efeito, já a secretária, apesar de mais pesada, seria facilmente arrastada permitindo assim que o malévolo ser forçasse a entrada naquele espaço.
Entretanto o tétrico cenário adensou-se quando, os dois náufragos daquela ilha horrenda ouviram uma significativa mudança tonal das investidas provocadas pelas manápulas da amaldiçoada criatura.
Os dois encarcerados exibiam uma expressão de pavor, aliada a uma sensação claustrofóbica, de alguém que vê o seu já pequeno espaço de manobra, a ser reduzido a uma ínfima área de pouco mais de 10m2.
Jenny debruçou-se no parapeito da única janela daquele espaço e observou as paredes exteriores em busca de alguma saída. Apesar da cor gradiente de final do crepúsculo conseguiu ver, a cerca de dois metros e meio de altura, a existência de um cabo de electricidade fixo à parede de pedra disposto paralelamente à torça da janela. Tentou chegar àquela linha-de-vida que os poderia salvar mas esta estava demasiado alta. Uma solução, matutou Jenny, seria retirar a cadeira que servira de tranca e usá-la como plataforma para se elevar até ao parapeito da janela, mas ainda assim havia o risco de não conseguir chegar ao referido cabo, brotando contudo a cerebral questão se, em caso de sucesso, ela possuiria a suficiente força braçal para se suster e deslocar horizontalmente até ao peitoril do vão seguinte.
Entretanto Smith, que deambulava de um lado para o outro no cubículo-prisão, compeliu a pequena secretária de madeira que ali jazia sem dono, de encontro à porta. Supostamente, o peso superior deste denso objecto relativamente ao da cadeira, talvez resistisse melhor aos possíveis impactos da besta que, segundo ele, não tardaria a chegar. Tal acto gerou uma pequena divergência de ideias entre os dois aprisionados. Para Jenny, que ainda retinha alguns (poucos) ensinamentos da disciplina de física, a cadeira, ao exercer uma força transversa mas centralizada na maçaneta da porta, era o objecto de maior confiança para o efeito, já a secretária, apesar de mais pesada, seria facilmente arrastada permitindo assim que o malévolo ser forçasse a entrada naquele espaço.
Entretanto o tétrico cenário adensou-se quando, os dois náufragos daquela ilha horrenda ouviram uma significativa mudança tonal das investidas provocadas pelas manápulas da amaldiçoada criatura.
(...)
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