23 de março de 2011

(...) 7

Ahhh... Socorro! Ajudem-...me. Balbuciava o polícia enquanto uma espécie de mão humana lhe entrou pelas goelas até o deixar caído no chão. Desfalecido. A chuva parou. O céu transformou-se num azul impetuoso, o sol rompeu pelos campos, os dedos desapareceram, os bocados de carne deixaram-se cair, extintos, envoltos em ligeiros tremores. Morreram. Jul, o cão e o polícia, embebidos em sangue e lama, começaram a acordar de um sono profundo, uma amnésia rompante, o canastro começa a recuperar forças, Jul que fazes aqui? Que fazemos aqui? – Não sabe? Como é que não sabe se foi o senhor quem me trouxe aqui? Não, não sei. Bem, vamos voltar à aldeia. A caminho da aldeia na imprecisão do que os levou ao campo, o polícia começa a coçar-se, depois com mais força, mais ainda, a coçar o corpo todo, O que se passa comigo? Será que foi algum bicho que me mordeu?
Chegados à aldeia, então chefe o que se passava com Johnson? Johnson? O que é que tem Johnson? – Enquanto se coça desenfreadamente. Chefe, foi aos campos a pedido do maluco que lhe dissera que Johnson estava caído no chão, onde é que ele está? – Enquanto abre as portas do jipe. Jisp atira-se a ele em tom de folia, Jisp pára! – é sempre a mesma coisa com este cão. Johnson? Johnson!! O que é que aconteceu? – pergunta incrédulo. Como assim, do que é que estás a falar? O polícia leva a mão ao coldre – quietos! Ninguém se mexe! Estão detidos até eu saber o que se passa! O que pensas que estás a fazer? Avança em direcção à arma, Deitou! No chão! No chão!!! – grita, enquanto o camarada e superior se aproxima, o que vais fazer? Vais disparar? Pois se vais é bom que o faças já! Quieto! Eu não quero disparar, quieto! Pois se não disparas para que me apontas essa arma? A arma baixou ligeiramente, vês, ias arruinar a tua vida para quê? – Ouve-se um disparo. Ensurdecedor. Ouve-se um barulho, ferro a cair no chão, era a arma que ainda agora estava em mira, Johnson! O polícia deixa-se cair para o chão. Johnson, o que fizeste? O que tu já devias ter feito – responde num tom arrogante enquanto sai do jipe, enlameado, de olhar frio mas, ao mesmo tempo, trémulo.

5 de janeiro de 2011

(...) 6

Mas na realidade, se é coisa que ele não estava era sozinho.
A montante do velho campo de futebol, o vento teimava em soprar e orquestrava uma lutuosa melodia que, em conjunto com a negrura da noite, a gélida chuva e a barrenta lama cor de sangue, transformava o ambiente em algo fúnebre com um leve cheiro agre a morte.
Ao alto, o polícia olhava aquele pequeno espaço rubro e lodoso onde Jul fora engolido pela terra. Estava estático, a água da chuva precipitava-se na sua cara ensopando a farda e entranhando-se no seu corpo já por si frígido de medo. As suas botas, outrora sempre luzidias ao estilo marcial, estavam agora parcialmente enterradas e envoltas numa papa argilosa que o agrilhoava à terra.
Ensaiou um olhar em redor como quem pretende atestar a segurança do perímetro mas apenas conseguiu rodar o tronco alguns graus até perceber que os membros inferiores não obedeciam. Olhou em frente, apesar da penumbra da noite conseguiu vislumbrar que o chão, a escassos metros de si, ganhava nova vida.
Os dedos, que Jul – o louco relatara, tinham agora apensado os respectivos carpos e metacarpos formando mãos que tacteavam a lama em busca de um ponto sólido de apoio para poder elevar, quiçá, todo o resto de um corpo.