5 de janeiro de 2011

(...) 6

Mas na realidade, se é coisa que ele não estava era sozinho.
A montante do velho campo de futebol, o vento teimava em soprar e orquestrava uma lutuosa melodia que, em conjunto com a negrura da noite, a gélida chuva e a barrenta lama cor de sangue, transformava o ambiente em algo fúnebre com um leve cheiro agre a morte.
Ao alto, o polícia olhava aquele pequeno espaço rubro e lodoso onde Jul fora engolido pela terra. Estava estático, a água da chuva precipitava-se na sua cara ensopando a farda e entranhando-se no seu corpo já por si frígido de medo. As suas botas, outrora sempre luzidias ao estilo marcial, estavam agora parcialmente enterradas e envoltas numa papa argilosa que o agrilhoava à terra.
Ensaiou um olhar em redor como quem pretende atestar a segurança do perímetro mas apenas conseguiu rodar o tronco alguns graus até perceber que os membros inferiores não obedeciam. Olhou em frente, apesar da penumbra da noite conseguiu vislumbrar que o chão, a escassos metros de si, ganhava nova vida.
Os dedos, que Jul – o louco relatara, tinham agora apensado os respectivos carpos e metacarpos formando mãos que tacteavam a lama em busca de um ponto sólido de apoio para poder elevar, quiçá, todo o resto de um corpo.